HQ | ‘Assalto ao Útero’ apresenta a luta pelo direito de autoria sobre a própria história
HQ expõe injustiças sociais sofridas por Cristina em uma São Paulo de 1994, que poderia ser a de hoje

Se essa rua fosse minha… Assim, evocando a canção infantil como uma forma de projetar um caminho melhor para a sua, Cristina, uma jovem negra de 25 anos, grávida de nove meses, enfrenta uma São Paulo assolada por uma das piores chuvas já registradas para cumprir mais um dia do seu trabalho como catadora de material reciclável. E, se não bastasse a imposição climática, ao final do dia a natureza chama mais uma vez pela força da mulher, é tempo de nascer. A menina, Dandara, ao correr dos ponteiros troca o calor e a segurança do ventre da mãe por uma cidade em tempestade, com outros, de coisas e negócios.
Se em ‘Assalto ao Útero, quadrinho lançado pelo Estúdio Molotov HQ, de Santo André, Cristina se apresenta sempre com disposição para enfrentar as dificuldades da sua jornada, conforme os problemas agravam-se a personagem parece ter cada vez menos a quem recorrer em uma São Paulo de 1994, que poderia ser a de hoje. Seu impulso não dá conta de enfrentar um Estado que conhece mais do que ninguém mecanismos para fazer prevalecer seus interesses, que ataca a protagonista nos seus momentos de tranquilidade e vulnerabilidade.
Com o trabalho dos artistas Victor Zanellato e Diogo Mendes, se o propósito da obra é provocar reações sobre as injustiças e arbitrariedades cometidas contra pessoas comuns do cotidiano, como leitor o desejo que prevalece é que, em algum momento, Cristina e toda pessoa possa conquistar o seu direito sobre ter a autoria de sua própria história. Para isso, a HQ tem a música ‘A Mão que Assalta o Berço’ do rapper Eduardo Taddeo como referência para o seu desenvolvimento, expondo questões raciais, violência policial, sensacionalismo midiático, além de outros exemplos de força usados por quem está no poder para a manutenção de uma ordem que privilegia a si mesmo.
Ao final, se essa rua fosse mesmo dela e de tantas outras como Cristina, tudo seria diferente, a cidade grande, com certeza, teria o ritmo da canção e contaria outra história, a violência não seria regra e, talvez, a menina nunca tivesse ido embora. As protagonistas retornarão em ‘Armada Vermelha’, título futuro do Estúdio Molotov HQ que promete a sequência das personagens.
‘Assalto ao Útero’ é um projeto realizado a partir de uma campanha de financiamento coletivo e pode ser adquirida pelas redes sociais do Estúdio Molotov HQ.
Taí uma resenha que me deixa orgulhoso de ter feito parte desse trabalho! Obrigado por isso :))) ❤️