A luta não pode ser apagada
Não vamos aceitar discursos Mansplaining ou usurpadores momentâneos de causas populares
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Em 1994, o Estado de São Paulo decretou a criação da Delegacia de Polícia do 1º Distrito Policial do Município de Ribeirão Pires, no artigo 2 é indicado a Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher de Ribeirão Pires. Estamos em 2020, e esse fundamental instrumento de segurança pública ainda não é uma realidade para nossa cidade que se aproxima dos 124 mil habitantes, em sua maioria mulheres.
O decreto acima citado, Nº 39.521, DE 16 DE NOVEMBRO DE 1994, está mexendo com a cidade novamente e infelizmente não é por sua inauguração finalmente, mas a corrida pelo ouro de quem vai deixar seu nome registrado como quem conquistou essa causa para a cidade. Primeiro precisamos lembrar que a cidade não executa essa política pública por falta de interesse político em anos não eleitorais e pela desorganização dos setores públicos envolvidos que já perderam emendas e verbas destinadas à implantação por não cumprirem prazos.
A luta das mulheres na cidade pela Delegacia da Mulher não vem de hoje e não começa a partir de uma declaração de um homem que no fundo tem o interesse em sair cantando vitória e espalhando glórias. Em 2018, o Coletivo Mulheres na Trincheira empreitou uma batalha na cidade para que a Delegacia fosse pauta na Câmara dos Vereadores, na qual não há mulheres em sua representatividade, e realizou diversas discussões com a população. Junto com outras interessadas conseguiram o avivamento do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher e com ele efetivaram o Fluxo de Atendimento de Mulheres em Situação de Violência no qual a Delegacia de Defesa da Mulher é um dispositivo de suma importância na luta contra a violência doméstica e feminina.
Não podemos deixar de lembrar que essa caminhada tem sido construída com muita luta, debates e enfrentamento na cidade, derrubando preconceitos e conservadorismo que ainda acreditam que a Delegacia comum dá conta dessa demanda. Precisamos salientar que uma Delegacia de Defesa da Mulher está para além do atendimento e execução do B.O., ela traz junto um conceito de acolhimento e escuta qualificada das vítimas e o encaminhamento do agressor para a justiça.
O feminismo reconhece o apoio de homens aliados e que sabem que seus privilégios precisam ser usados para o fortalecimento dessa luta, mas também não podemos permitir que os homens usem de nossas batalhas, de nossas feridas e, principalmente, de nossas conquistas para se manterem nas alturas do patriarcado e na manutenção do machismo, que subestima e minimiza as mulheres. Ribeirão Pires está avançando lentamente para uma cidade mais acessível e segura para as mulheres. Não vamos parar de indicar caminhos para a libertação das mulheres e não vamos aceitar discursos Mansplaining ou usurpadores momentâneos de causas populares.