A praça é o palco do povo
Fim de semana com a Praça Central de Ribeirão Pires lotada pelas juventudes, famílias em sua variedade de possibilidades e apresentações culturais de artistas locais

Batalha Clandestina - Seletiva Municipal da Bienal da UNE 2023 (Foto: Dani Silveira)
No último sábado (21), o Evento dasMinas preencheu a arena do palco com mais de 10 expositoras com diversos produtos e serviços, todos organizados e prestados por mulheres. Sentiu o drama? Mulheres tomando de assalto seus projetos econômicos e expondo seus talentos em praça pública.
O Evento dasMinas é uma feira itinerante de economia criativa e empreendedorismo feminino, o encontro reúne mulheres de Ribeirão Pires e da região que trabalham com artesanato, costura criativa, produtos orgânicos, decoração e ainda conta com trancistas, tatuadoras e outros serviços ligados ao universo feminino ou não. Para a sua 11ª edição, as organizadoras escolheram a Praça Central para dar maior visibilidade ao Coletivo dasMinas e alcançar mais mulheres interessadas no projeto, aumentando a clientela e fomentando as apresentações artísticas.
Nessa edição, o Evento dasMinas contou com a presença do “Cidadania Aqui” um posto móvel da SAPIS – Secretaria de Assistência, Participação e Inclusão Social de Ribeirão Pires, que oferece informações sobre o Cadastro Único, CRAS, CREAS e Coordenadoria da Mulher. O sábado foi ensolarado e esquentou as vendas do comércio da Vila do Doce e, principalmente, dos comerciantes que ficam fora do miolo central.
Ouvimos de uma comerciante que se mostrou muito satisfeita com o movimento de ocupação da praça, o retorno dela foi que esse tipo de evento traz público para o local, pessoas que vão ficar para assistir, para participar e para consumir. Outro comentário que foi repetido diversas vezes por quem estava prestigiando e passando é que o espaço vazio da praça dá margem para vandalismos e torna o lugar não atrativo para munícipes e para turistas que vêm visitar a cidade e encontram uma praça vazia de atrações, com um tempo de permanência curto e que não estimula o comércio em seu potencial. Praça e palcos urbanos com atividade cultural é sinônimo de espaço público respeitado, economia criativa girando e oportunidade de valorização do trabalho cultural local.

O Evento dasMinas é um exemplo de como a sociedade civil organizada pode ocupar os espaços públicos de forma criativa e oferecer, além de cultura, um caminho para as mulheres autônomas gerarem renda e terem uma rede de apoio que ultrapassa o relacionamento comercial.
Nessa linha, “tudo que vai… Volta!”. Esse é um dos gritos de ordem da Batalha Clandestina, que rolou no domingo (22), no mesmo espaço ocupado pelo Evento dasMinas no dia anterior. Essa edição fez parte da Seletiva Municipal da Bienal da UNE 2023, ação que vai rolar no Rio de Janeiro.
No palco, os MC’s de Ribeirão Pires e região mandaram a letra e fizeram a praça central ficar pequena pra tantas juventudes. Um mar de gente que fazia onda toda vez que um MC “matava” o outro na rinha, eles e elas pediam “sangue”, sangue de cultura, de pensamento rápido, de fala assertiva e muita representatividade. O evento foi organizado pela Nação Hip Hop Brasil e pela Batalha Clandestina com apoio da Prefeitura de Ribeirão Pires, Instituto Cultural Brasil, UNE – União Nacional dos Estudantes, Vereador Léo Biazi, SAPIS – Secretaria de Assistência, Participação e Inclusão Social e de outros parceiros que acreditam que o Hip Hop é um caminho de produção cultural, social e, sim, econômico.
Pra quem não sabe, a Batalha Clandestina é a batalha de rima mais tradicional de Ribeirão Pires, já aconteceu em diversos espaços pelo centro da cidade e, em todos, com histórico de truculência institucional. As batalhas de MC’s juntam meninos e meninas, com um microfone na mão e muita ideia afiada na cabeça. Quem manda melhor e consegue agitar a plateia, leva e supera as próximas etapas até conquistar o prêmio máximo da noite, a “folhinha” com o chaveamento da batalha.
Na edição desse domingo, a premiação foi em cash, para o primeiro lugar 300 pilas e para o segundo mais 200. O reconhecimento financeiro está para além da ajuda de custo, está para o fomento na formação cultural, na geração de renda e na valorização do trabalho desses jovens. Sim, batalha de rima, o Hip Hop, os eventos urbanos, todos são fontes de trabalho e seus trabalhadores precisam ser reconhecidos como tal. O artista precisa ser reconhecido como trabalhador do setor que gera cerca de 3% do PIB, pô!
Recado deixado, a noite de rima também tinha outro objetivo, classificar um representante de Ribeirão Pires e região para a Seletiva Estadual da Batalha da Nação e – aí meus parças leitores e leitoras – vocês têm noção do que isso significa pra comunidade Hip Hop da Região do ABCDMRR?
Ter um evento dessa magnitude voltado para a juventude marginalizada no status quo é um respiro para aqueles que diariamente sofrem preconceitos, violências e julgamentos de uma sociedade irresponsável. Ocupar a Praça Central de uma cidade para cantar rap, mandar rimas e ser reconhecido por isso é fazer com que esses personagens estigmatizados durmam com a mente tranquila sabendo que a luta não é fácil, mas também não foi vencida pelo preconceito estrutural. Ribeirão Pires tem muito a aprender com as rodas de rima, com os gritos de ordem e com a resiliência dos movimentos sociais.
A Praça Central de Ribeirão Pires em dois dias de eventos culturais com muita representatividade, movimentou a cidade e colocou muita ideia conservadora pra “mimir”. E assim que é, mulheres, juventudes e agitadores culturais como o Território Livre Fm, Coletivo dasMinas, Batalha Clandestina, Nação Hip Hop Brasil e artistas reunidos precisam de um espaço para se encontrar, trabalhar e gerar renda com a economia criativa.
Desde antes de São José a praça central é o lugar do povo, da ágora, da transmissão de conhecimento, das manifestações populares e serve como palco para as pautas que são de interesse dos cidadãos. Sem praça não existe cidade, sem palco não existe plateia, sem artistas não existe cultura, sem debate com a sociedade civil não existe Democracia, e esse é outro “pito” para o poder público, segundo conversas que tivemos durante o final de semana de eventos, a Prefeitura da Estância Turística de Ribeirão Pires cogita a retirada do palco da praça da Vila do Doce.
“Aí não dá, né Ribeirão Pires!?”, ao invés de abrir mais espaços públicos querem retirar mais um da população. Contamos com o vice-prefeito Rubão e com a secretária da SAPIS Marisa que estavam e elogiaram muito os encontros tanto do sábado quanto do domingo, que aconteceram em cima, em baixo e ao redor do mesmo palco que pode ser demolido. O tal projeto de “revitalização” da Praça Central deve ser discutido amplamente com os artistas e com os munícipes, esses dois dias de eventos provaram que o espaço é primordial para a cidade, então não podemos vacilar e correr o risco de perder nosso point.
Quanto mais cultura, mais pessoas conscientes da sua cidadania.