HQuinta #3 | Minas da Várzea, um quadrinho em dois tempos

Entre o registro das histórias de mulheres que se dedicam ao esporte e pelos melhores momentos do processo da realização de uma reportagem

Minas da Várzea escala como seu tema principal o futebol feminino amador na região de Parelheiros, distrito da cidade de São Paulo. Em formato de jornalismo em quadrinhos, a narrativa se apresenta interessante em dois tempos, no registro das histórias de mulheres que se dedicam ao esporte e pelos melhores momentos do processo da realização de uma reportagem.

Começou!

Durante a cobertura do 1º Festival Minas do Toque, basta a bola rolar e logo nas primeiras páginas pinta aquela série de adversários inconvenientes, de jogo sujo, como o machismo, a estrutura precária para o jogo e a falta de equipamentos. Mas é no desenrolar dessa partida que fica evidente a máxima de que “futebol é coisa pra mulher”. Não tem W.O., o aumento de times femininos é um dos ganhos e uma realidade, conforme a fala de uma das atletas.

Capa de ‘Minas da Várzea’ (Agência Mural)

Registro de 2018, Minas da Várzea também se impõe como uma obra conectada ao seu tempo, evidencia a ausência de políticas públicas nas regiões periféricas, seja no esporte ou de saneamento básico. Também se passa um ano antes da Copa do Mundo de Futebol Feminino, realizada na França, a mesma que ficou marcada pelas transmissões dos jogos da seleção brasileira em televisão aberta.

Intervalo

De lá pra cá, o calendário brasileiro feminino segue ganhando forma, há aumento na cobertura, novos patrocinadores e os grandes feitos das principais referências do esporte mais popular do Brasil, Cristiane, Marta e Formiga são meios – de campo – para uma juventude com muita fome de bola. O caminho ainda é longo, deve ser permanente e o futuro é promissor. Quem ganha? Todo mundo!

Marta, Formiga e Cristiane atuando pela seleção brasileira (Imagem: CBF)

Etapa Final…

Saindo um pouco da esfera profissional e voltando às páginas da HQ, a repórter Priscila Pacheco investe o seu trabalho em mais um cenário do futebol feminino de várzea nas periferias de São Paulo. O registro se passa ainda em Parelheiros, na Terra Indígena Tenondé Porã do Povo Guarani Mbya. Nesse segundo momento, a redonda não está rolando, o foco é todo no deslocamento da jornalista e o seu encontro com as jogadoras. A arte de Alexandre de Maio dá o movimento necessário para que a leitura siga o ritmo dessa sequência com alguns imprevistos, a busca da profissional pelas fontes e algumas imagens que comunicam mais que palavras. O entrosamento da dupla, em conjunto com o editor Anderson Meneses, juntos fazem do título um ganho.

‘Minas da Várzea’ (Agência Mural)

Dos vários depoimentos e posturas extremamente comprometidas por toda obra, um relato chama a atenção para um problema insuperável. “Quando a goleira se machuca a gente para e só volta quando ela melhora”, diz a zagueira Patrícia. Nesse sentido, com tanta mostra do que representa o ato de vestir a camisa, respeitar quem está ao lado é mais um dos tantos saberes que o futebol apresenta.

Assim, Minas da Várzea, quadrinho da Agência Mural, faz o pivô sobre uma realidade do futebol feminino em um ponto da periferia de São Paulo, mas lança com precisão uma ideia para cada amante desse esporte tão do nosso dia a dia. É tempo de fugir da marcação e sair do lugar comum, seja no bairro que mora, no clube que frequenta ou com o time que torce para perceber que as minas tão jogando, jogando muito e em todos os lugares.

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