HQuinta #1 | Pavilhão e a sua cadeia de violências
Pavilhão é o segundo título do Estúdio Molotov HQ, com roteiro de Victor Zanellato e arte de Diogo Mendes, ambos moradores de Santo André, além de contar com a arte-final de Aristeu F. dos Santos
![](https://territoriolivrefm.com.br/wp-content/uploads/2021/05/HQuinta_TLFm.png)
![](https://territoriolivrefm.com.br/wp-content/uploads/2021/05/HQuinta_TLFm.png)
O Estúdio Molotov HQ, criador independente de histórias em quadrinhos, enquadra seu novo título Pavilhão na periferia de São Bernardo do Campo, município da região ABCDMRR. A lente da história está sobre Everson, um homem comum, e o seu entorno: família, amigos e o sistema.
Em uma espécie de cerco constante, Everson está sempre atrelado a um desses três pilares e as consequências de cada uma dessas relações. Não consegue escapar. Seja pelo rumo inesperado das coisas, o acaso, a crença que se quebra ou a sua própria consciência que não lhe deixa tranquilo. O personagem vive como se estivesse predestinado a não encontrar saídas.
Ainda por esse tom, que trata sobre a falta de perspectiva do protagonista ou a ausência do poder púbico como agente fomentador de oportunidades, instituição retratada na obra como quem não liberta, mas repreende, são provocações das criações do Molotov HQ, como já foi apresentado em Assalto ao Útero, título anterior do coletivo.
Outro aspecto recorrente desse universo é o ponto de segurança sobre cenários reais que remetem ao imaginário coletivo e localizam a narrativa. Se na obra de estreia havia o sensacionalismo midiático com a sua espetacularização sobre as mazelas do cotidiano. Agora, quem cresceu nos anos 90 em São Paulo diante de uma televisão tem as suas lembranças do que representam Febem e Carandiru. Nesse sentido, não é necessário a descrição dos lugares. Cada leitura carrega determinado contexto.
Por essa cadeia de violências, a passagem de tempo para Everson parece um fardo que ele não consegue se desfazer. Na impossibilidade de achar meios para agir contra o que lhe aflige, ataca sempre o que lhe pode ser precioso. Suas atitudes ferem sua mãe, Dinorá. Nem a sua própria vida está livre de um ataque contra si mesmo. Como ecoa a música de Tim Maia em uma sequência de quadros logo nas primeiras páginas, “Na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri”.
Ainda sobre a música como referência ou easter egg, o universo do Rap se presentifica com Pavilhão 9, Sabotage, Racionais, sinalizando o gosto dos autores, mas principalmente servindo como eixo para dimensionar o contexto político e geográfico do roteiro. Um caminho rico de histórias, muitas interrompidas, seja no ABC Paulista, no Carandiru ou no Jacarezinho.
Mesmo imerso nessa realidade, o Estúdio Molotov HQ não teme se aventurar por um lado místico, criando pontas para em algum momento ou lugar um outro andamento das coisas. No caso de Everson, caberia muito bem seguir pela letra de Tim. “Mas quem sofre sempre tem que procurar. Pelo menos vir achar. Razão para viver”.
Pavilhão é o segundo título do Estúdio Molotov HQ, com roteiro de Victor Zanellato e arte de Diogo Mendes, ambos moradores de Santo André, além de contar com a arte-final de Aristeu F. dos Santos. O trabalho do coletivo foi subsidiado pela Lei Aldir Blanc.
A pré-venda de Pavilhão está em campanha de financiamento coletivo no Catarse – veja mais aqui! A obra será colorida, no formato 17×24, capa impressa em papel triplex C2s LD 250g com laminação fosca, lombada canoa e miolo de 60 páginas em papel couchê fosco de 115g.
Amei a resenha, gente. E adorei como vocês pegaram o subtexto do Tim Maia hauahauahush maravilhosos ❤️
Bicho, que resenha maravilhosa. Obrigado Leo!!! Força pra nóis, força pro ABC.